É que a dor, quando é insuportável, foge
como lágrima por intermédio dos olhos. É dor de saudade, que abate e não
cabe nesse coração que bate em um debate diário de lembranças riscadas
em papel velho. É dor, que por não ter mais o sorriso-guardião-mentiroso
em seu rosto, não consegue se esconder em nenhum outro lugar que não
seja os olhos. É dor de desamor ou amor demais. É dor de estar sozinho,
de se sentir até mesmo sem fôlego e querer respirar o perfume da
bela-flor e não tê-la em meu jardim todos os dias. É dor transformada em
gotas pequenas que riscam minha camisa e nem chegam a tocar o chão. É
dor e nada mais que ela: e se a saudade tivesse sobrenome esse seria
“dor”. É dor do que se dizem chamar “amor” e que sente falta do que o
alimenta. É dor por me parecer forte e mesmo assim chorar, feito criança
machucada.
Quando a noite chega e dormir sozinho não me parece tão
melhor quanto ficar acordado e contar cada lágrima rolada no travesseiro
até que o sono pese mais que minha própria solidão. É dor por saber que
o relógio não conta até sessenta como eu quando contava brincando de
pique esconde. É dor por saber contar melhor que à vinte anos atrás e ter
a certeza de que hoje é noite-de-segunda-feira e o calendário pendurado
na parede, que não me deixa esquecer, me disse que até sábado o
travesseiro pode virar um pequeno lago. E a dor, seja ela da saudade ou
coisa qualquer, parece ter uma sede-de-lágrimas insaciável e a todo
instante me pede ao menos uma gota que seja.
Por: Giórgio Bonifácio
UAU! Incrível, belíssimo!
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